domingo, 3 de maio de 2009

Medo de dizer não

Está sempre pronto a ajudar, ainda que se prejudique?
Todos nós estamos sujeitos a algum tipo de manipulação. E a forma mais comum disto acontecer é quando as pessoas fazem uso do nosso "ego". Não queremos de forma alguma que o outro tenha um mau julgamento ao nosso respeito. Achamos que devemos corresponder às expectativas alheias, pois, caso contrário, o nosso conceito "cairá".

É a mesma história daquela sua amiga que chega de mansinho e vai "massageando" a sua auto-imagem com frases do tipo: "Você é tão especial, tão inteligente, tão bacana..." e logo em seguida "dá o bote": "... será que você poderia me fazer um favorzinho...".

Lógico que dificilmente você conseguirá evitar este favor. Talvez esteja sem o tempo, sem condições ou simplesmente não esteja disposto a realizar aquilo naquele momento. O problema é que na maioria das vezes, nós, seres humanos, podemos ignorar um insulto, mas não conseguimos ignorar um elogio. E o manipulador sabe disso. Ainda que inconscientemente, mas sabe.

E se por acaso você respeitar o seu limite e dizer "Não" como resposta, imediatamente a chantagem da sua "amiga" continua, desta vez, de mais agressiva: "Puxa vida, eu não esperava ouvir isto de você. Como pôde me deixar na mão... Você me decepcionou...". Alguns manipuladores mais dramáticos chegam a apelar: "Eu pensava que poderia contar com você, mas já vi que não é nada disso".

Com tudo isto você acaba se sentindo a pior pessoa do mundo. Fica até deprimido.
Mas é claro você não quer decepcionar ninguém. Afinal, morre de medo que a outra pessoa ameace a sua imagem de um ser bonzinho e sempre solícito. "Já pensou se ela pensar mal de mim?", você reflete. E corre fazer tudo do jeitinho que ela pediu. É bem provável que faça até mais do que o solicitado, ainda que isto traga para você algum prejuízo. Será este o seu caso?

O jogo da manipulação é um jogo cruel porque você se vê obrigado a fazer tudo o que a pessoa espera de você e ainda deve se sentir agradecido por estar nesta condição. Pais fazem isto com os filhos, professores com os alunos, patrões com empregados e vice-versa. Casais também passam freqüentemente por estas situações.

Não quero aqui dizer que ajudar o próximo seja algo ruim. Pelo contrário. Podemos e devemos ajudar ao outro sempre que tivermos condições e oportunidade. Mas também temos que reconhecer que não podemos tudo. Temos que aprender a dizer não em determinadas situações para termos tempo de viver as nossas próprias coisas.

Desistir de preservar a sua imagem de sempre perfeito, zeloso e bonzinho, desistir de ser o bom samaritano 24 horas por dia é um bom começo para não se tornar uma pessoa manipulável. A escolha é sua. Se você sempre pode tudo para todos, pagará um preço muito caro.

Aprendendo a respeitar os próprios limites, você perderá o título de "queridinho de todos". Seu conceito poderá cair cada vez que disser um "desculpe, agora não posso..." ou "infelizmente não tenho como ajuda-lo nisto", mas, seguramente, estará "separando o joio do trigo". Ou seja, estará conhecendo que de fato é seu amigo e quem se relaciona contigo apenas por interesse.

Ser ou não ser manipulável? Como já disse, a escolha é sua.

Por Chris Almeida; filósofo e terapeuta holístico

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